Introdução
As relações entre cinema e história sempre intrigaram
e instigaram os envolvidos com esses dois campos da cultura, desde o momento em
que o fenômeno cinematográfico nasceu. Ao longo do século que se seguiu à
invenção do cinema, não foram poucas as tentativas para apreender a extensão
que estas relações alcançam. No entanto, até hoje não é possível dimensioná-las
satisfatoriamente, tampouco avançou-se muito sobre em que consiste a magia da exibição de um filme para um
público. Isso não significa que, no século do cinema, não se tenha especulado
muito a respeito.
Os trabalhos sobre o tema são muito diversos, mas, em
geral, tendem a privilegiar uma de suas dimensões, a fim de contornar
dificuldades: investiga-se a linguagem, a produção, a recepção ou alguns desses
elementos conjugados. Há também estudos sobre estilos, gêneros, diretores,
teorias do cinema. Mesmo assim, o universo de dúvidas é desproporcionalmente
maior do que o de certezas. O problema das relações entre história e cinema permanece,
pois, como grande desfio na atualidade.
Nesse sentido, são necessários esclarecimentos prévios
quanto às noções e argumentos que devem orientar o trabalho. Herdeira da
tradição que toma o fenômeno “cinema” em
viés antropológico, exploramos uma articulação das teses de distintos campos de
conhecimento, tomando como referências diversas reflexões teóricas e pesquisas das
ciências humanas – todos, no entanto, forjados segundo uma gênese teórica
comum, como veremos. Alguns deslocamentos conceituais são também exigidos para
que possamos nos aproximar desse que é um objeto tão importante, como complexo
e instigante.